Ela veio, atravessando a rua
Magra, despenteada, incólume.
Mostrando nos olhos a alma nua
Porque tinha motivo: era a fome!
Sisudo quando aquela figura encarei
Fantasiado num misto de força e temor
Fui desarmado pela brandura com que escutei:
"A dona da casa está, por favor?"
Numa cidade egoísta e violenta
Não é de bom tom baixar guardas
Como quem tranquilo se senta
Entre amigos a bebericar geladas
"Por que você quer saber?"
Qual seria aquele interesse em minha vida?
"Desculpe. Só queria a ela dizer
Se poderia me dar um pouco de comida!"
Aquela figura magérrima
que encontrei na rua e nem sei o nome
Levou de mim frutas e mais: uma lágrima.
Eu perdi o medo. Ela um pouco da fome!