Sai da mesma boca que clama, o beijo
O som que por vezes maltrata, e o ensino.
E se há o fogo que queima, em desejo
Há indiferença que mata, repentino.
Da mesma mão que bate, o carinho
Do mesmo pé que agride, o compasso
E o mesmo peito que nutre, o regaço
É o mesmo que pede revide, jacobino.
Parece que tudo se divide, sendo dois
Parece que nada se funde, num só
Seremos então uma metade de um nó
Dos laços que fomos no antes e depois?
Da mesma moeda dois lados, a sorte
Do mesmo pão que alimenta, a migalha
No mesmo instante que um nasce, a fagulha
É o mesmo que outro se afasta, na morte
Vai a vida seguindo em conflito,
Desde o famoso Ser ou não
Ser, como se o “tudo” fizesse do “nada” prosélito
Que só entende quem já aprendeu a lição.
E se retas paralelas, se encontram
No infinito do buscar entender
Todos os caminhos, me parece, demonstram
Viver é um constante aprender!
Disse o poeta: Narciso acha feio o que não é espelho!
E muitas vezes a gente busca o igual, na esperança de que dessa forma a vida em grupo fique mais fácil. Verdade, mas, no fundo, grande mentira.
Por um motivo bem simples: só posso me reconhecer como individualidade, porque existe o diferente de mim. Ou, em outras palavras, sem o diferente, Eu não existiria!
Se tudo fosse da mesma cor, não haveria distinção de nada.
Se todos os pensamentos fossem os mesmos, não haveria o que descobrir.
Tolerar o diferente, não com indiferença, mas com a defesa inabalável dele ser, pensar e agir diferente, mesmo que eu não concorde com nada.
Cada um enxerga o mundo com as cores da lente que estiver usando.
Ah, mas e se violar direitos?
Bem, aí a questão deixa de ser ética e passa a ser processual. Simples!